terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O DILEMA DE SANSÃO


PODERIA TER SIDO DIFERENTE
*Pr. Edivaldo Rocha

“Depois, deu a mulher à luz um filho e lhe chamou Sansão; o menino cresceu, e o Senhor o abençoou” (Jz 13:24)

Mês passado falamos sobre um juiz chamado Jefté e sua influência negativa para o povo de Israel: comentamos acerca do seu voto que propunha sacrificar a primeira pessoa que visse, falamos também sobre a chacina incentivada contra os efraimitas e de como uma má escolha pode afetar o futuro de uma nação.
            O livro de juízes narra, depois de Jefté, a liderança de mais quatro juízes e termina com uma história trágica, a qual descreve como a moralidade dos israelitas estava comprometida (confira na leitura dos últimos nove capítulos do livro). Mas voltando para os sucessores de Jefté, percebemos que dos quatro, três não tiveram muito destaque visto que apenas oito versículos narram itens da vida desses três homens (Jz 12:8-15). Na verdade esses versos apenas preenchem um espaço de tempo para de fato narrar a vida de alguém de maior importância para Israel, Sansão.
            A Bíblia narra a vida de Sansão desde um pouco antes de seu nascimento. A mãe de Sansão era estéril até o dia de receber a visita de alguém enviado pelo próprio Deus. Geralmente essas visitas de enviados do Senhor são acompanhadas de contextos de necessidades não supridas. Notem a visita do enviado de Deus a Josué (Js 5:13-15): Josué estava apreensivo em relação a entrada em Jericó, então o príncipe do exercito de Deus lhe aparece e lhe passa a estratégia certa para que ele dominasse a cidade. Com a marcha e o toque das trombetas as muralhas de Jericó vieram abaixo. Outro a receber essa celestial visita fora Gideão (Jz 6:11-24). Este estava apavorado pela perseguição dos midianitas. Naquela época quem fosse pego desprevenido sofria amarga sentença. O anjo do Senhor lhe aparece e diz: “vai na tua força”. E assim aconteceu com Abraão, com Jacó, com Balaão, com Moisés, com os profetas, enfim, sempre que uma situação parecia fugir do controle e quando a esperança não era mais evidente, Deus enviava emissários para confortar, desafiar e resolver problemas os problemas do seu povo. Nessa perspectiva o salmista cantou, “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Sl 34:7).
            A mãe de Sansão vivia um dilema de não ter filhos. Filhos sempre foram e são, ainda hoje, bênçãos do Senhor.  A mulher que por algum motivo não pudesse gerar filhos era considerada amaldiçoada. Por mais que Manoá, seu marido, amasse sua esposa, a pressão familiar era constrangedora. Imaginem os olhares desdenhosos, as cunhadas implicantes, as sogras inconformadas por não terem netos. A depressão e um sentimento de inferioridade eram constantes na vida da mãe de Sansão até aquela visita.
A visita do Anjo mudou completamente a situação emocional da esposa de Manoá. Foi tão estrondoso esse efeito que de imediato eles nem acreditaram. Mas quando Deus fala, ele não se importa em confirmar suas promessas para garantir a certeza que a bênção virá.
            Isso nos faz pensar sobre as nossas necessidades que são supridas em diversas circunstâncias. Umas desapercebidamente, outras Deus faz questão de enviar o seu anjo para anunciar que o quadro vai mudar. E vejam como mudou para a esposa de Manoá: ela agora não só teria a bênção da maternidade, mas teve “seu resultado de ultrassom” e a primeira consulta de pré-natal entregue e feita (respectivamente) pelo anjo do Senhor.
            Ela recebeu algumas recomendações: ela não poderia beber bebida alcoólica ou comer comida imunda. A criança não deveria cortar o cabelo, pois desde sua infância seria criado com nazireu. Nazireu era aquele homem ou mulher que fazia um voto de serviço ao Senhor por um tempo ou por toda sua vida (confira a lei em Nm 6:1-21). Sansão deveria ser criado assim, para que Deus, por intermédio dele, livrasse os israelitas das mãos dos filisteus.
            A vida de Sansão é marcada por sérias controvérsias. Primeiro ele não entendia que uma mistura étnica, por casamento com mulheres estrangeiras, também significava uma introdução de cultos a entidades que Deus condenava. Quando alertado por seu pai e sua mãe acerca do risco que correria ele demonstra um perfil obstinado e desobediente, ou seja, ele despreza os conselhos de seus pais, muito embora esses achassem que esta obstinação fora provocada pelo Senhor para achar ocasião de ir de encontro com os filisteus. O resultado disso foi danoso. Além de comprovar que sua esposa estrangeira não era confiável, ele teve de arcar com um prejuízo (Jz 14:10-18). A família dela não era muito melhor. Seu sogro deu a esposa de Sansão em casamento à outra pessoa. Sansão fez tudo pela família da esposa e foi traído por seu sogro.
            Esse episódio revelou um lado sombrio de Sansão que ateia fogo no rabo de trezentas raposas e as solta na plantação do sogro. Essa ação não foi bem vista pelos moradores de Israel, pois qual pai que em sã consciência entregaria sua filha em casamento a um homem que contrariado ateia fogo na plantação do sogro?
            Embora Sansão tivesse matado filisteus e queimado a plantação de um filisteu, os israelitas não passaram a gostar mais dele por conta disso. Os moradores de Judá quando pressionados pelos filisteus não viram na pessoa de Sansão um líder que os conduzissem. Muito pelo contrário, Sansão era tido como alguém que perturbava a paz deles. O estilo de vida de Sansão não fazia com que a pessoas o respeitassem enquanto líder. Na realidade ele não exerceu qualquer liderança sobre Israel: ele não organizou o povo para a guerra, ele também não organizou o povo do ponto de vista espiritual, muito menos moral. Sansão era dado às aventuras e uma vida desregrada afastada do convívio dos seus patrícios.
            Os habitantes de Judá “amistosamente” chegaram a Sansão e pediram que ele se entregasse para que a paz voltasse a reinar. Ele aceita e se permite amarrar. Depois de entregue ele arrebenta as coradas e mata mil filisteus com uma caveira de jumento.
            Depois dessa matança ele vai passear na faixa de Gaza e passa a noite com prostitutas. Lá é desafiado por filisteus e no meio da noite arranca as portas da cidade.
Essa cena mostra que Sansão era dado ao vandalismo, o negócio dele era fazer arruaça (é claro que uma brincadeira essa parte).
            A história de Sansão continua. Já não fosse suficiente o que ele passou com sua primeira esposa estrangeira, o que Sansão faz? Interessa-se por outra mulher estrangeira. Seu nome era Dalida. Em relação a primeira, esta era “mil vezes” mais perigosa. Foi esta que descobriu o segredo de Sansão e o levou à ruína e à decadência (Jz16:4s).
            Ao dizer a Dalila o segredo de sua força, Sansão é capturado, tem seus olhos furados e é obrigado e a trabalhos forçados girando o moinho da cadeia.
            Sansão passou a vida alimentando a temeridade, a boêmia e a promiscuidade sem pensar nas consequências dos seus atos. Dificilmente seu exemplo poderia ter inspirado alguém a copiá-lo. Do ponto de vista de personalidade, Sansão era o pior amigo que alguém poderia ter. Talvez seja por isso que nos quatros capítulos que narram a sua história não apareça nenhum amigo como coadjuvante da novela de sua vida. Viveu só e iria morrer só também, mas lhe restava apenas refazer uma coisa: as pazes com Deus.
“Sansão clamou ao Senhor e disse: Senhor Deus, peço-te que te lembres de mim, e dá-me força só esta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos. 29Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que se sustinha a casa, e fez força sobre elas, com a mão direita em uma e com a esquerda na outra. 30E disse: Morra eu com os filisteus. E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela estava; e foram mais os que matou na sua morte do que os que matara na sua vida. 31Então, seus irmãos desceram, e toda a casa de seu pai, tomaram-no, subiram com ele e o sepultaram entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai. Julgou ele a Israel vinte anos” (Jz 16:28-31).
           
            A história de Sansão é como a história de muitas pessoas que conhecemos. Às vezes nasceram em lares consagrados ao Senhor (lares crentes), foram criados dentro da igreja, ou tinham tudo para serem pessoas dedicadas na obra do Senhor. Lembremo-nos que Sansão nasceu para servir a Deus, por isso seu voto, mas ele preferiu os caminhos do mundo.
            Sansão pode até ter se divertido com suas aventuras e seus conflitos com os filisteus. Porém as suas escolhas não foram escolhas acertadas e sua vida foi marcada por pessoas que o traíam, por pessoas que não o levavam a sério como juiz e pessoas que não o respeitavam. Os últimos anos da vida de Sansão foram anos de humilhação.
É verdade que ele se arrependeu e que Deus restabeleceu por uma última vez a sua força. Isso mostra que mesmo nos últimos instantes da vida temos a chance de clamar pelo perdão dos nossos pecados e assim alcançar a graça da Salvação, mas a tudo poderia ter sido diferente na vida de Sansão.
Se realmente ele tivesse cumprido o seu voto, tivesse dedicado a sua vida ao Senhor ele poderia ter tido uma boa esposa e uma boa família, ele poderia ter sido rodeado de bons amigos e poderia ter sido o líder que o seu povo precisava. Pena que ele só percebeu isso quando não dava mais tempo.
Toda a história de Sansão nos faz lembrar-se de inúmeras pessoas que quando chegam ao fim da vida percebem que deveriam ter feito muitas coisas de modo diferente. Percebem que deveriam ter amado mais as esposas, esposos e os filhos, percebem que deveriam ter escutado mais os seus pais, percebem que deveriam ter se dedicado mais ao Senhor e infelizmente percebem que algumas consequências, algumas sequelas não dão para mudar.
Contudo, a história de Sansão, nas entrelinhas, revela uma luz no fim do túnel. Pois enquanto há fôlego de vida há esperança e hoje nós temos a oportunidade de nos arrependermos daquelas coisas que não foram boas para começar a trilhar uma nova vida ao lado de Cristo Jesus; hoje as esposas têm a oportunidade de serem mais amorosas com seus esposos e os esposos com suas esposas; hoje os pais e mães têm a oportunidade de serem mais cuidadosos com seus filhos e os filhos mais atenciosos e respeitadores para com seus pais; hoje nós temos a oportunidade de escolher o certo em detrimento ao errado; hoje nós temos a oportunidade de escolhermos a Salvação. Lembre-se, você pode começar a fazer a diferença do seu futuro a partir de agora, então escolha certo a fim de evitar uma vida de enganos como foi a vida de Sansão. Amém!

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