domingo, 27 de novembro de 2011

MINISTÉRIO DE DANÇA KOINONIA E ADORAÇÃO - EVANGELIZAÇÃO COM ARTE

EVANGELIZAÇÃO COM ARTE É POSSÍVEL?
Festival de Artes IBCI 2011
 *Pr. Edivaldo Rocha

Há um tempo classificavam a arte sete categorias: pintura, escultura, música, dança, teatro, literatura e a mais recente, cinema. Hoje, a essas agruparam mais quatro categorias: fotografia, vídeo game, história em quadrinhos e computação gráfica em 3D. Cada uma dessas categorias traz junto a sua prática elementos que representam os sentimentos, as ideias, as sensações – arte é expressão. 
Atrelada a essa definição temos a arte como o exercício de um dom. E quando entendemos dessa maneira percebemos que as sete (ou onze) categorias não são suficientes para determinar cada exercício de dom.
Há pessoas que fazem do ensino uma arte; há pessoas que fazem de um ofício profissional uma arte; há pessoas que tornam o encadear de palavras em um discurso uma arte; outras misturam ervas e temperos com tamanha maestria que os alimentos deixam de ser objetos comestíveis para serem objetos apreciáveis.
Qualquer construtor pode edificar um prédio, mas nem todos conseguem edificar uma catedral dessas que acabamos de ver? Um pintor pode pintar centenas de metros de parede sem se cansar, mas quantos conseguem reproduzir a Capela Sistina?
Diante dessas considerações cabe-nos a pergunta: quando uma atividade que fazemos deixa de ser banal para se tornar uma expressão artística?
Muitos dizem que há uma linha tênue entre o comum e o extraordinário; entre o banal e o excepcional. O problema que nem todos sabem precisar onde está essa linha que divide esses dois extremos. Mas de uma coisa podemos ter certeza, uma atividade deixa de ser comum quando ela alcança resultado que poucos conseguem reproduzir. Se qualquer pintor de feira conseguisse reproduzir a Capela Sistina, talvez ela não fosse considerada uma obra extraordinária.
Contudo, ao falarmos de arte e religião, precisamos fazer outra pergunta: quando é que ela deixa de ser profana para ser sacra?
Certa ocasião li um comentário de Giorgio Agaben que falava acerca da sacralização dos objetos na museologia. Por exemplo, um banco desses é apenas um banco de igreja por conta do seu uso. Mas no momento que se entende que esse banco pode servir para representar uma época, um estilo, uma pessoa, retira-se esse banco do seu papel usual (que é acomodar as pessoas que vêm à igreja) e lhe confere um status de símbolo. Com isso se sacralizou esse objeto do ponto de vista museológico – notem que não tem nada com o sagrado religioso. Mas a ideia é a mesma entre o sagrado e o profano da religião, ou seja, uma prática deixa de ser profana quando a ela é instituída o caráter simbólico da religião.
Esse caminho profano-sagrado / sagrado-profano foi percorrido pelos cristãos desde o início da igreja. Houve um tempo em que os cristãos foram perseguidos pelo Império Romano. Muitos passaram a morar nas catacumbas subterrâneas de Roma. Com o tempo, esses cristãos começaram a desenhar as paredes. Não demorou muito para perceberem naqueles desenhos reflexos da fé de um povo perseguido. O que hoje poderia ser considerado vandalismo, foi considerado na época a expressão da igreja perseguida.
As imagens que vimos mostram que a arte foi utilizada para representar a fé cristã em diversas ocasiões e de diversas formas. Na Idade Média, o teatro foi utilizado para propagar a fé cristã; o canto e a utilização de instrumentos passaram a compor parte da liturgia em alguns seguimentos da Igreja.
O problema é que muitos objetos e práticas deixaram de ser recursos para expressar a fé e tornaram-se objetos de veneração.
O caminho inverso também aconteceu. Certa vez, a Drª. Joyce Clayton, professora do Seminário Batista do Norte do Brasil, perguntou se os alunos sabiam os motivos das igrejas evangélicas não possuírem sinos, torres e cruzes. Diante da resposta negativa dos alunos, ela explicou que houve um momento em que a Igreja Católica exercia pesada influência sobre o governo. E como ela não podia impedir que missões evangélicas estrangeiras abrissem igrejas aqui no Brasil, a Igreja Católica conseguiu impor regras para as novas construções: entre essas regras estava a proibição de se construir torres, de se usar sinos e cruzes para identificar as construções como igreja. Em contrapartida, os evangélicos, por não poderem usar, começaram a repudiar esses elementos. Na Europa, muitas igrejas evangélicas possuem torres, sinos, os pastores usam batinas tal qual na Igreja Católica.
Alguns músicos dizem que a melodia do hino Castelo Forte outrora fora tocada nos cabarés da Alemanha. Lutero teria aproveitado a melodia e escrito uma letra nova.
Creio que seja por conta dessa via de mão dupla que ora sacraliza as práticas e os objetos, ora profana, que muitas igrejas contemporâneas reprimem as expressões artísticas dentro dos templos e no dia-a-dia da igreja. Por isso, do ponto de vista de produção de arte para ser admirada, os protestantes brasileiros deixam muito a desejar. Há igrejas em que até o bater palmas é considerado profano. Mas ainda temos uma pergunta:
é possível evangelizar através da arte?
Acredito que sim. Desde que a expressão artística, seja ela música, dança, interpretação, pintura, fotografia (que hoje circula muito na Internet), etc., seja uma ferramenta, seja um meio de expressar o amor de Deus. Essas práticas e habilidades jamais devem ser encaradas com um fim em si mesmas e longe de nós torná-las objeto de adoração ou veneração.
Elas precisam ser um veículo que mostre a nossa perfeita adoração, pois:
“Vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4:23).
            Esses adoradores adorarão a Deus com as mais variadas formas de expressão, entendendo que o seu talento, o seu dom é um presente de Deus e oferece uma linguagem impar para declarar o amor divino.
            Lembremo-nos também o que diz o apóstolo Paulo – 1Co 10:13 – “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”.
Tomando esses cuidados, a nossa arte chegará diante de Deus com cheiro suave e conseguirá sensibilizar as pessoas para a glória de Deus. Amém!