terça-feira, 25 de janeiro de 2011

15 ANOS - MENSAGEM BÍBLICA


CARTA À ALINE
*Pr. Edivaldo Rocha

“Quando eu era menina, falava como menina, sentia como menina, pensava como menina; quando cheguei aos meus 15 anos, desisti das coisas próprias de menina” (paráfrase de 1Co 13:11).
Hoje nesta ocasião especial, não farei uma pregação, mas contarei uma história, que por sinal não é minha, e sim de Paulo Mendes Campos*. E essa história também não era dele, e da mesma forma que modificou a original, eu modificarei a dele a começar pelo título: ele intitulou sua história com a seguinte indicação, Para Maria da Graça. Eu a chamarei Carta à Aline. E conta o seguinte:
         Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos e eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.
         Este livro é doido, Aline (se você não leu, deveria ler): ele é doido, porque o sentido dele está em ti.
         Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Aline, é louca.
Aline, não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação é perplexa e quantas vezes mais tentares responder essa pergunta, mais forte te tornarás. Você deve preocupar-se em responder a esse questionamento, mas se um dia não encontrares a resposta, inventa uma.
         A sozinhez (esquece essa palavra que Paulo Campos inventou como alguém que também inventa respostas agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Isso nos leva a entender que muitas vezes na vida, mesmo rodeados de pessoas, nos sentiremos sozinhos, Aline, mas quando quiseres sentir a companhia de alguém, basta abrir a porta do quarto e se sentar no meio dos outros. Isso ajuda a vencer a solidão.
Falo isso, porque todos nós somos todos tão bobos. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências ou grandes recompensas. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo (podem até engordar, mas não crescem).
Aline, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda, nem todo sermão precisa ser assim também.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia. Pois há quem diga que viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato; experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?”. Nessa vida constantemente precisamos contemplar outros pontos de vista antes de julgar as pessoas
Os homens vivem apostando corrida, Aline. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Aline Araújo, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para a tua sabedoria de bolso guarda isso também: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde queres, ganhaste.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais perfeitos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Alinezinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. Há dias que pensamos que os ratinhos são grandes hipopótamos, bem como há dias em que fazemos dos hipopótamos ratinhos. Durante a vida vivemos fazendo essas trocas. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Aline, com as grandes ocasiões elas às vezes podem nos enganar.
Então, mais uma palavra de bolso: porque a vida é assim, às vezes as pessoas se entregam de tal forma ao sofrimento, com uma tal auto-piedade, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago,  pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas". Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Aline Araújo.
E como eu não poderia terminar, sem te dizer algo que meu ofício de pastor me obriga, te direi mais uma palavra que deves guardar no coração, Aline: quando nós fazemos quinze anos o mundo parece diferente, parece mais colorido e não são poucas vezes que esses detalhes têm o poder de nos fazer esquecer de coisas importantes. Nessa vida, Aline, não importa a idade que temos, sempre precisamos da família. E também não importa onde estejamos, sempre precisaremos do Senhor nosso Deus. É por isso que o escritor bíblico disse, “lembra-te do eu criador no dia da tua mocidade, antes que cheguem maus dias em que dirás que a alegria parece não fazer mais parte dele (paráfrase de Ec 12:1).
Se atentares para essa história, terás tudo para te sentires bem. FELIZ ANIVERSÁRIO!


* Texto extraído do livro “O Colunista do Morro”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1965, pág. 23

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