quinta-feira, 22 de setembro de 2011

REVENDO NOSSAS CONVICÇÕES


A CAMINHO DE DAMASCO
Certeza e Incertezas

*Pr. Edivaldo Rocha

            Certa ocasião em um encontro da União de Homens de Pernambuco, o Pastor Walter (pena não lembrar o sobrenome) contou uma história envolvendo um militar em um desfile de comemoração do dia da Independência - 7 de Setembro. No referido desfile mãe do soldado observa extasiada aquela comemoração. Mas algo fugiu do padrão: enquanto os demais soldados – em marcha - levantavam a perna direita, o soldado filho daquela senhora levantava a perna esquerda. Então mais radiante que antes, a senhora chama alguém que também observava o desfile e pergunta: está vendo aquele soldado que quando os demais levantam a perna esquerda ele levanta a direita e vice-versa? A pessoa respondeu que sim. Então a senhora completa: aquele é meu filho. Ele é o único que está marchando certo.”

            Essa ilustração fala que dependendo do ponto de vista, uma situação pode estar certa ou não. E nessa noite quero convidá-los a refletirem comigo acerca de uma passagem bíblica que de certa forma também fala dessas coisas.
“Mas na estrada de Damasco, quando Saulo já estava perto daquela cidade, de repente, uma luz que vinha do céu brilhou em volta dele. Ele caiu no chão e ouviu uma voz que dizia: Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9:3-4 NTLH).
Saulo foi um militante judeu do partido do farisaísmo. No exercício de sua religiosidade dividia seu tempo entre executar mandados de prisão e castigar quem se professava cristão. É interessante que o farisaísmo, bem como os outros partidos do judaísmo remontavam uma religião nacionalista. É o que mais ou menos o hinduísmo é para o povo da Índia. Não há como ser hinduísta sem nascer na Índia. É claro que para ser praticante do judaísmo, não é necessário nascer em Israel. O judaísmo aceitava conversões. Mas a ação de Saulo se caracterizava em perseguir o que chamavam no momento de seita cristã. Não importa onde o praticante estivesse, Saulo o perseguia e trazia o indivíduo para Jerusalém para punição prevista.
O trecho bíblico selecionado narra o episódio em que Saulo “caça aos cristãos” fora dos limites de Israel. Saulo vai a Damasco que na época pertencia à Síria dominada pelo Império Romano. Então, os fatos demonstram que Saulo usando de sua cidadania romana percorria todo Império a procura de cristãos para prendê-los.
Se nos perguntássemos que motivos levaram Saulo e desprender tão grande esforço, talvez elencássemos algumas possíveis alternativas:
·        Alguns poderiam dizer que fora por sua religião. Mas essa alternativa não é de todo certa. Ou seja, nem todos os fariseus perseguiam os cristãos como Saulo fazia.
·        Poderíamos dizer que Saulo tinha ódio dos cristãos. Essa alternativa também encontra seus problemas de justificativas, visto o ponto que o Império Romano não iria deixar a solta um Judeu enfurecido. Quem não pensaria que esse judeu não pudesse mais cedo ou mais tarde transferir esse ódio por seus dominadores, então essa alternativa se mostrava como possível problema que os romanos não queriam ver concretizar.
·        Os fatos nos levam a crer que Saulo perseguia os cristãos por algo muito mais simples: Saulo perseguia simplesmente por achar que estava certo agir assim.
Nós devemos lembrar que Saulo era um religioso zeloso. E por religioso zeloso precisamos entender que é aquele tipo de religioso que procura agradar ao seu Deus. Saulo acreditava que perseguindo os cristãos estaria sendo zeloso com sua religião. Saulo agia conforme acreditava e por isso perseguia os cristãos na fé de estar agradando a Deus.
O caminho para Damasco na vida de Saulo não foi um momento de repreensão por ter agido errado, mas foi um momento de reajustamento de valores, ou até mesmo troca de valores; foi um momento de reorientação da sua fé.
O caminho de Damasco foi momento e o local onde o fariseu Saulo entendeu que nem sempre quando pensamos estar certos e convictos, estamos fazendo a vontade de Deus.
Por vezes, como crentes, que trabalhamos na casa do Senhor, precisamos avaliar se nossos métodos, nossas condutas, nossos meios são realmente aquilo que o Senhor queria que fizéssemos. Precisamos lembrar que Saulo agia como agia por acreditar que estava fazendo o certo. Não acredito que ele fosse um homem mau, egoísta ou fanático. Faltava-lhe apenas o Caminho de Damasco para entender realmente de que lado Deus estava.
O caminho que conduzia a Damasco não possuía nada de sobrenatural. Não era um caminho próprio das peregrinações (por mais que os peregrinos do oriente o utilizassem para vir a Israel). Este trecho da estrada era “um meio do caminho” como qualquer outro. Não devemos esperar que nada de sobrenatural aconteça naquela porção de terra caso hoje resolvêssemos trilhar os caminhos que o apóstolo Paulo trilhou em vida. Mas esse local foi o local que Deus estabeleceu na vida do futuro apóstolo para reorientar a sua fé.
Muitas vezes estamos marchando em descompasso como fez o soldado no desfile, achando que somos os únicos a estarem certos.
Depois do caminho de Damasco, Saulo aprendeu a olhar a vida e a sua religiosidade com outros olhos; ele vislumbrou com uma nova perspectiva os caminhos de Deus para sua vida. Ao fazer isso – ou permitir que Deus fizesse isso em sua vida - sua fé encontrou sentido pleno e seus dias não foram mais em vão.
Hoje, Deus lança mão de vários locais, várias situações, vários acontecimentos em nossas vidas para representar o que o Caminho de Damasco representou na vida de Saulo. Deus ainda hoje marca encontros conosco a fim de reavaliarmos as nossas posturas, as nossas escolhas, a nossa visão sobre ele.
Há uns dias, uma colega me emprestou o livro A Cabana. Dentre muitas coisas que refleti ao ler esse livro, pude constatar que a nossa visão de Deus pode sofrer sérias variações, dependendo das circunstâncias que nos sobrevêm. Ou seja, algumas experiências nos fazem mudar ou até mesmo esquecer quem é Deus em nossas vidas.
Por um momento, Saulo parece ter esquecido quem era Deus e qual o seu propósito para humanidade. Mas o Caminho de Damasco o fez repensar o seu conceito de Deus, porque no fim das contas tudo é uma questão de ponto de vista e escolhas que fazemos.
Nesse sentido, o pastor Josué Gonçalves conta uma história intitulada “A Vida É Feita de Escolhas” que diz o seguinte:
“O João era o tipo de homem que qualquer pessoa gostaria  de conhecer: Estava sempre de bom humor e tinha sempre qualquer coisa de positivo para dizer. Se alguém lhe perguntasse como ele estava,  a  resposta  seria  logo:
— Se melhorar estraga.
Era um gerente especial, pois seus garçons seguiam-no de restaurante em restaurante, só por causa da sua atitude. Era um  motivador  nato: se um  colaborador tinha um dia mau, o João dizia-lhe sempre para ver o lado positivo da situação. Fiquei tão curioso com o seu estilo de vida que um dia  lhe  perguntei:
— João, como podes ser uma pessoa tão positiva o tempo  todo? Como é  que consegues isso?
Respondeu-me :
— Cada manhã, ao acordar, digo para mim mesmo :
— João,  hoje tens duas escolhas, podes ficar de bom humor ou de mau humor, e  escolho  ficar  de bom humor. Cada vez que algo de mau acontece, posso  escolher  fazer-me de vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido:  escolho  aprender  algo.
Sempre que alguém reclama, posso escolher aceitar  a reclamação ou mostrar o lado positivo da vida.
— Certo, mas não é fácil - argumentei.
— É fácil, disse-me o João. A vida é feita de escolhas.  Quando examinas as coisas a fundo, há sempre  uma escolha. E cabe a nós escolhermos como  reagir às situações: escolhemos como as pessoas  afetarão o nosso humor. É  tua a  escolha de como viver a tua vida.
Nunca mais me esqueci do que o João me disse, e  lembrava-me sempre dele quando fazia uma escolha. Anos mais tarde soube que o  João  cometera um erro, deixando pela manhã a porta de serviço aberta, e  foi  surpreendido por assaltantes. Dominado, enquanto tentava abrir o  cofre, sua  mão,  tremendo com o nervosismo, desfez a combinação do segredo. Os  ladrões entraram em pânico, dispararam e atingiram-no.
Por sorte, foi  encontrado  a  tempo  de ser socorrido e levado para um hospital.
Depois de  18 horas  de  cirurgia e semanas de tratamento  intensivo, teve alta,  ainda  com  fragmentos de balas alojadas no corpo.
 Encontrei-o mais ou menos por acaso passados uns dias e quando lhe perguntei como estava, logo me respondeu com o seu  habitual ar bem disposto:
- Ótimo, se melhorar estraga !!
Contou-me o que havia acontecido, e perguntou se eu  queria ver as suas cicatrizes.
Eu recusei-me a ver seus ferimentos, mas  perguntei-lhe o que lhe havia passado pela mente na ocasião do assalto.
— A primeira coisa que pensei foi que devia ter trancado a porta de trás do estabelecimento, respondeu.
Então, deitado no chão,  ensanguentado, lembrei-me  que tinha duas escolhas: poderia viver ou morrer.  Escolhi  viver !!
— Não tiveste medo? perguntei.
— Olha, os paramédicos foram ótimos, diziam-me que tudo  ia dar certo e que eu ia ficar bom. Mas quando cheguei à sala de  emergência e vi a expressão dos médicos e enfermeiras, fiquei apavorado, pude ler em seus lábios: esse aí já era ...
Decidi então que tinha que fazer algo.
— E o que fizeste?? perguntei.
— Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou-me  se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi: Sim.
Todos pararam para ouvir a minha resposta. Tomei fôlego  e gritei:
Sou alérgico a balas de revólver!!
Entre as risadas, disse-lhes: Eu escolho viver,  operem-me como um ser vivo, não como um morto!!
O João sobreviveu graças à persistência dos médicos,  mas, também graças à sua atitude. Aprendi que todos os dias temos a opção  de viver plenamente e tomar decisões, pois serão atitudes que  trarão benefícios agora e para a eternidade.
Afinal de contas, A ATITUDE É TUDO ... " (GONÇALVES, Josué. jogando luz no sermão: ilustrações. 4ed. São Paulo:Mensagem para Todos, 2006. v. 2. p.53-55)

E de fato atitude é tudo. Pois se mesmo no Caminho de Damasco Saulo não tivesse tomado a atitude de reorientar o seu caminho ele continuaria a perseguir aos cristãos assim que melhorasse da cegueira – caso melhorasse.
Seria bom se de vez em quando passássemos pelo caminho de Damasco nem que fosse só para ter a certeza que estamos do lado certo e que nossas metas estão de acordo com as metas traçadas por Deus. O caminho de Damasco deve ser para o crente o momento de confirmação que estamos fazendo a vontade de Deus e não a nossa.
Pensemos cuidadosamente nessa possibilidade de percorrer o Caminho de Damasco.e diante da necessidade de mudança de postura, tomemos uma atitude. Com isso só temos a ganhar.
“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29:13).