Quando entrei no site da igreja para
ficar a par da divisa do congresso que a Juventude da Igreja Batista Central do
Ibura escolheu, fiquei muito empolgado com a qualidade dos cartazes, as imagens
selecionadas, o nome e sobretudo com a divisa escolhida:
"Darei a vocês um coração novo e porei um
espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um
coração de carne." (Ez 36.26)
Ao constatar a ideia central dessa
passagem, não pude deixar de pensar na cena que ela pode nos remeter: quando li
que Deus promete trocar o coração de pedra por um coração de carne, vislumbrei
a cena da realização de um transplante. Pois o que é um transplante? Na maioria
dos casos, é a troca de órgão por outro – no texto bíblico, temos a ideia da
retirada um coração de pedra, a fim de substituí-lo por um de carne.
É claro que o texto bíblico não
trata dessa questão de modo literal. Essas associações que fazemos, ocorrem por
conta de uma característica própria da língua hebraica: o antropomorfismo.
Deixem-me esclarecer esse termo.
Certa ocasião, o professor Marcos
Bittencourt (STBNB), ao ministrar uma aula da língua hebraica, afirmou que o
hebraico é uma língua predominantemente antropomórfica, ou seja, é uma maneira
de explicar ou atribui a Deus e às coisas características e comportamentos
humanos. É por essa razão que o salmista quando quer expressar que o seu
espírito só encontra plenitude ao se conectar com Deus, ele diz “Como suspira a corça pelas correntes
das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma
tem sede de Deus” (Sl 42:1-2a). Notem as expressões: suspirar e sede que são
própria do comportamento humano utilizadas para explicar uma necessidade
espiritual.
E é por essa característica idiomática também, que o autor
do livro de Ezequiel utiliza essa figura do coração de pedra para
expressar que o ser humano não está vivendo conforme a palavra de Deus, que não
atenta mais para uma vida de santidade. O coração de pedra representa a
autonomia que o ser humano quer manter em relação a Deus, esquecendo-se que
cada vez que o ser humano tenta ser autônomo em relação a Deus, ele se torna
escravo do pecado.
No livro de Ezequiel, a palavra coração
aparece trinta e cinco vezes e a combinação coração de pedra aparece
duas vezes. A outra ocasião é no capítulo 11:19, “Dar-lhes-ei um só coração, espírito
novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes
darei coração de carne”.
E novamente aqui aparece aquela
ideia de transplante: tirar um órgão com problema, para por outro no lugar.
Quando preparava essa reflexão, pesquisei em paralelo
algumas coisas a respeito do transplante de órgãos e constatei três aspectos
que servem de ilustração para essa passagem bíblica.
1-Os motivos que levam ao transplante
O primeiro aspecto que nos serve de ilustração gira em
torno dos motivos que levam uma pessoa a precisar de um transplante. Dos vários
que podemos elencar, selecionamos apenas os mais frequentes:
Hereditariedade: várias pessoas
tornam-se necessitadas de um transplante por conta de uma herança familiar.
Essa talvez seja uma herança que ninguém entre na justiça para ter direito a
ela. Quantas pessoas não herdam de seus pais a tendência ao diabetes e à
hipertensão arterial e com a falta dos devidos cuidados acabam se tornando
potenciais candidatos a um transplante de rim. É claro que nem todo transplante
de rim é causado por esses motivos e nem todo diabético ou hipertenso precisará
de um transplante, mas algumas heranças como essas podem causar em nós a
necessidade de trocarmos um órgão. E quando pensamos na questão da hereditariedade, não temos
como deixar de pensar que no plano espiritual um dos motivos que faz com que
Deus troque o nosso coração é a hereditariedade do pecado. Gostaria que todos
fossem muito lúcidos nesse aspecto em particular para não chegar diante de uma
pessoa na fila de espera de um transplante e dizer que ela está em pecado. Quero que
todos entendam que falo do Pecado Original que a raça humana traz
entranhada no seu DNA, porque o pecado gera a morte e a morte só quer uma
desculpa. Quando Deus chama o seu profeta Ezequiel e revela que o povo precisa
se submeter a um transplante espiritual é porque ele sabe que a herança do
pecado comprometeu a saúde espiritual do coração humano.
Traumas violentos: os especialistas também afirmam que um
outro motivo que faz com que as pessoas necessitem de transplante é terem
sofrido algum acidente que comprometeu o bom funcionamento de um órgão.
Pensando nessa informação, lembrei de muitas pessoas que passaram enormes
traumas emocionais e com isso acabaram se fechando para a família, para os
amigos e até para Deus. A dor provocada por sentimentos feridos faz com que
muitas pessoas criem mecanismos de proteção, faz com que criem barreiras emocionais
a fim de não deixarem-se envolver emocionalmente com mais ninguém (quando falo
envolvimento emocional, falo daquele positivo, pois quem se fecha para os
outros também manifesta alguns tipos de emoção, às vezes ódio, às vezes mágoa e
o pior de todos eles, a apatia ou a indiferença). Nesse aspecto, temos que ter cuidado
com nossas ações, pois às vezes magoamos de tal forma as pessoas, os parentes,
os irmãos em Cristo que essas eles acabam se fechando até para Deus – muitas
vezes provocamos tantos traumas e por isso aqueles que estão à nossa volta
desenvolvem aquela patologia espiritual chamada coração de pedra. E esse
coração, só Deus pode remover.
Medicamentos e drogas – por conta dos
problemas hereditários, muitas pessoas são obrigadas a tomar vários
medicamentos por dia. E medicamento é uma faca de dois gumes: ajuda de um lado
e prejudica de outro; combate a dor de cabeça, mas compromete o estomago; serve
para controlar os níveis de glicose, mas compromete os rins. E fazendo outra
analogia com a questão do Pecado Original que nos é passado por
hereditariedade, vejamos quantas pessoas não procuram remédios para sua dor
espiritual, quantas pessoas não tentam tratamentos dos mais diversos e final
das contas só comprometem mais e mais a sua sensibilidade espiritual em relação
a Deus. Há pessoas que procuram paliativos para suas dores espirituais e nada
encontram, pois só Deus tem remédio para o pecado: e o nome desse remédio é PERDÃO. As Drogas também comprometem o
bom funcionamento dos órgãos. Para os traumas emocionais, que muitas vezes nós
mesmos causamos, algumas pessoas tentam encontrar consolo nas drogas e temos
que reconhecer o infeliz trocadilho de pedra em pedra elas endurecem os seus
corações.
2-O procedimento – a cirurgia propriamente dita
O capítulo trinta e seis do livro do profeta Ezequiel
mostra que Deus fez um diagnóstico dos vários motivos que fizeram o coração do
seu povo enrijecer, entre eles temos: a impureza física e espiritual,
idolatria, profanação do nome de Deus (v. 17-20).
Diante disso, Deus constatou que a única medida a ser
tomada era o transplante. Então, através do profeta ele disse:
"Darei a vocês um coração novo e porei um
espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um
coração de carne." (Ez 36.26)
Essa cirurgia tinha como objetivo uma melhor qualidade
espiritual de vida, que consequentemente se refletiria na vida física. Deus
desejava que seu povo voltasse a ser consagrado, voltasse a ser puro, voltasse
a ter um espírito reto, voltasse a ser livre (v. 22-29).
O interessante é que diante de um procedimento de
transplante várias coisas são analisadas, dentre elas o TEMPO.
Chega um momento, ou a idade, em que não é mais viável
fazer um transplante, porque a expectativa de vida é mínima. É claro que do
ponto de vista espiritual, enquanto há vida, há esperança. Contudo, quem sabe
quanto tempo vida ainda tem? O profeta Isaías disse “Buscai o SENHOR enquanto se pode
achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55:6).
3-O pós-operatório
Há muitos que pensam que em relação aos transplantes é só
entrar em uma fila de espera e ter a sorte de ser contemplado a tempo que tudo
está resolvido. Há um outro elemento chamado pós-operatório que é decisivo para
alguém transplantado. Há a necessidade de muitos cuidados.
Primeiro o recém-transplantado precisará ter cuidado com a rejeição
do novo órgão. Um órgão novo é sempre estranho ao corpo de quem recebe. Com base nisso, podemos inferir que
um coração novo da parte de Deus também corre o risco de ser rejeitado em
nossas vidas por conta do pecado que torna estranho tudo que é puro.
Para que um órgão não seja rejeitado, o paciente precisa
tomar medicações durante o resto de sua vida. E para aquele que recebe um novo coração do Pai, a
medicação anti-rejeição é ORAÇÃO, LEITURA DA PALAVRA, COMUNHÃO E VIDA DE
SANTIDADE.
A pessoa transplantada também precisa cuidar da dieta. Não
se pode comer e beber como antes. TEMOS QUE MUDAR OS HÁBITOS. Nesse aspecto,
temos o maior dos desafios.
Suponhamos que por conta do excesso do consumo de bebida
alcoólica uma pessoa comprometa o seu fígado a ponto de precisar trocá-lo.
Imaginemos também que esta pessoa consiga um novo órgão, mas depois de dois
meses de cirurgia, volte a beber como antes, o que acontecerá? O corpo que já
tem uma predisposição para a doença começará a atacar o novo órgão.
Do mesmo modo acontece em nível espiritual. Volta e meia,
como crentes pedimos que Deus transforme o nosso coração; que tire o coração de
pedra e ponha um de carne no lugar. Eu sei que pelo sangue de Jesus, Deus tem
um estoque de corações novos e ele deseja utilizá-los em nossas vidas. O
problema é que muitas vezes que Deus nos concede um coração novo, nós não
abandonamos os velhos hábitos. Deus nos dá um coração novo e de carne, mas aos
poucos nós vamos revestindo ele com pedras de perdição. Com pouco tempo esse
novo coração é rejeitado.
É por essa razão que ao recebermos um coração espiritual
novo, precisamos obedecer à dieta espiritual enriquecida com o FRUTO DO
ESPÍRITO SANTO: