segunda-feira, 21 de março de 2011

XI ASSÉMBLEIA ANUA DA ASSOCIAÇÃO DAS IGREJAS BATISTAS DA MATA NORTE 2º DIA


VIDA PLENA E MEIO AMBIENTE
Associação Mata Norte- 2º dia

 *Pr, Edivaldo Rocha
 
Tema "Vida Plena e Meio Ambiente"

Na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora" (Romanos 8.21-22).

            Na mensagem anterior, tratamos apenas de algumas questões introdutórias, mas que nos servirão para hoje trabalharmos a divisa e o tema com mais propriedade, sem descuidarmos do tempo, pois, como ontem, há muitas coisas para serem resolvidas no dia de hoje.
            Iniciando com a divisa não há como deixarmos de notar a linguagem figurada chamada personificação ou prosopopeia presente no verso 22.
O apóstolo Paulo diz, “Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora". É interessante notar essa personificação de uma sensação e um sentimento humano aplicado à criação, sendo posto a parte nessa passagem o ser humano. Quem aqui já viu a natureza gemer ou angustiar-se?
            Isso foi não um recurso utilizado somente por Paulo. O próprio Jesus disse que se seus discípulos se calassem, até as pedras clamariam (Lc 19:40). Paulo usou esse recurso linguístico para apresentar a gravidade da situação em que se encontra a obra de Deus, que era “boa” no princípio da criação (Gn 1:31). E notem que o apóstolo escreveu em uma época em que não havia os termos aquecimento global, efeito estufa, desmatamento, derretimento de geleiras, etc. Se esse texto bíblico fosse escrito no nosso tempo talvez o apóstolo personificasse outras sensações e outros sentimentos humanos para se referir à natureza criada.
            No verso 21, Paulo falou de uma Criação que será redimida do cativeiro da corrupção. Essa terminologia é um resgate da narrativa da queda do Homem que por ter se corrompido corrompeu também a natureza criada, senão vejamos Gn 3:17-18:
“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. 18Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.”

            Eis a origem do caos ambiental que vivemos hoje.
Comentamos ontem que ao lado da discussão espiritual, precisamos estar atentos à discussão acerca de Saúde, Política, Educação e também acerca do Meio Ambiente. Não se trata de um modismo, mas de algo (permitam-me também uma prosopopeia) que está gritando tão alto que é impossível que a Igreja não ouça. E diante desse clamor da Criação não podemos ficar inertes. É necessária uma atuação consciente, mas acima de tudo equilibrada. E creio que para atuação equilibrada seja conveniente lançarmos mão de uma abordagem filosófica defendida por Aristóteles (384-322  a.C.) chamada de Justa Medida.
            Essa concepção filosófica advogava que as virtudes ou as boas escolhas se davam quando o indivíduo evitava os extremos, optando pelo meio-termo. Um exemplo clássico dessa concepção filosófica se dá na apresentação da virtude da coragem. Segundo Aristóteles a coragem é o ponto de equilíbrio e a virtude entre dois extremos. Ou seja, ele fica no meio-termo entre a covardia e a temeridade (afoiteza ou excesso de valentia). Aqui no nordeste, nós usamos essa concepção filosófica quando dizemos que as coisas “não devem ser oito nem oitenta”.
            Mesmo que esse tema nos remeta a uma realidade que nos cobra uma resposta urgente, precisamos ter o cuidado de não sermos extremistas. Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio para que o Evangelho não seja comprometido.
            Falo isso porque há um tempo uma outra realidade gritante chamou a atenção da Igreja. A segunda metade do Século XX constatou um problema tão sério que a Igreja foi convidada a dar uma resposta. O problema em questão era a pobreza que assolava principalmente os países considerados de Terceiro Mundo.
            Em resposta a essa demanda social, ou pelo menos enfocando essa temática surge a conhecida de Teologia da Libertação. Confesso que é um direcionamento teológico que muito me chama atenção, mesmo eu tendo pouco domínio sobre a questão. Mas há um detalhe que sempre me causou estranheza nas práticas cristãs que defendiam ou ainda defendem essa abordagem.
            De modo geral eu percebi que alguns lideres e algumas instituições que defendem essa linha teológica pouco a pouco transformaram a Mensagem do Evangelho voltada aos pobres em Mensagem voltada aos pobres. Vocês conseguem perceber o detalhe da transformação? Aos poucos alguns adeptos de uma mensagem cristã voltada para os pobres foram deixando de lado o aspecto evangélico para assumirem integralmente a demanda da pobreza. Então a pobreza passou a ser auto-suficiente para a composição das mensagens. O evangelho, quando mencionado virou pano de fundo; Jesus de artista principal passou a ser figurinista ou quando muito, referência de alguém se que doou para os pobres.
            Hoje nós temos uma demanda ambiental que bate em nossas portas. Nosso tema e divisa já é o início de uma resposta da Igreja Batista a essa demanda. Porém, temos que evitar os extremos para que a Mensagem Cristã à questão Ambiental não se torne gradativamente Mensagem Ambiental. Temos que ter o cuidado para que daqui a alguns meses as nossas igrejas não deixem de plantar igrejas para plantar árvores. Não que plantar árvores não seja importante, contudo precisamos lembrar que a missão da Igreja pode ser resumida em três palavras: PREGAR O EVANGELHO.
Também não podemos correr para o outro extremo, esquecendo-nos ou negligenciando as responsabilidades sociais que temos enquanto crentes.
            Creio que uma das maneiras mais saudáveis e mais equilibrada para lidarmos com responsabilidade dessa questão ambiental seja trabalhando os membros para que no seu cotidiano eles possam estar atentos às escolhas que estão fazendo, para que desenvolvam hábitos de vida mais saudáveis. Porque no fim das contas, não se trata apenas de plantar árvores ou construir jardins na frente das igrejas, e sim trabalhar as escolhas da vida numa amplitude muito mais ampla, que vai desde a opção de ter o boletim impresso em papel ou não à compra de veículos que consomem menos e poluem menos.
            O fato é que a Natureza está gemendo e sofrendo angústias e isso de um modo ou de outro também nos afeta de duas maneiras: a primeira, por conta da responsabilidade de, como seres humanos, termos corrompido a obra de Deus que era boa; e a segunda, e por conta da lei da causa e efeito, ou seja, tudo que lançamos ao ar, de um modo ou de outro acaba voltando para nós.
            A nossa ação eclesiástica não pode estar aquém das demandas que gritam à nossa volta. Chegou o momento de reavaliarmos como crentes e cidadãos que somos o que fazermos com o nosso Meio Ambiente sem perdermos o foco da nossa missão aqui na terra que é pregar o evangelho. Amém!

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