A CAMINHO DE DAMASCO
Certeza e Incertezas
*Pr. Edivaldo Rocha
“Certa
ocasião em um encontro da União de Homens de Pernambuco, o Pastor Walter (pena
não lembrar o sobrenome) contou uma história envolvendo um militar em um
desfile de comemoração do dia da Independência - 7 de Setembro. No referido
desfile mãe do soldado observa extasiada aquela comemoração. Mas algo fugiu do
padrão: enquanto os demais soldados – em marcha - levantavam a perna direita, o
soldado filho daquela senhora levantava a perna esquerda. Então mais radiante
que antes, a senhora chama alguém que também observava o desfile e pergunta:
está vendo aquele soldado que quando os demais levantam a perna esquerda ele
levanta a direita e vice-versa? A pessoa respondeu que sim. Então a senhora
completa: aquele é meu filho. Ele é o único que está marchando certo.”
Essa ilustração fala que dependendo
do ponto de vista, uma situação pode estar certa ou não. E nessa noite quero
convidá-los a refletirem comigo acerca de uma passagem bíblica que de certa
forma também fala dessas coisas.
“Mas
na estrada de Damasco, quando Saulo já estava perto daquela cidade, de repente,
uma luz que vinha do céu brilhou em volta dele. Ele caiu no chão e ouviu uma
voz que dizia: Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9:3-4 NTLH).
Saulo foi um
militante judeu do partido do farisaísmo. No exercício de sua religiosidade
dividia seu tempo entre executar mandados de prisão e castigar quem se
professava cristão. É interessante que o farisaísmo, bem como os outros
partidos do judaísmo remontavam uma religião nacionalista. É o que mais ou
menos o hinduísmo é para o povo da Índia. Não há como ser hinduísta sem nascer
na Índia. É claro que para ser praticante do judaísmo, não é necessário nascer em Israel. O judaísmo
aceitava conversões. Mas a ação de Saulo se caracterizava em perseguir o que
chamavam no momento de seita cristã. Não importa onde o praticante estivesse,
Saulo o perseguia e trazia o indivíduo para Jerusalém para punição prevista.
O trecho
bíblico selecionado narra o episódio em que Saulo “caça aos cristãos” fora dos limites de
Israel. Saulo vai a Damasco que na época pertencia à Síria dominada pelo
Império Romano. Então, os fatos demonstram que Saulo usando de sua cidadania
romana percorria todo Império a procura de cristãos para prendê-los.
Se nos
perguntássemos que motivos levaram Saulo e desprender tão grande esforço,
talvez elencássemos algumas possíveis alternativas:
·
Alguns poderiam dizer que fora por
sua religião. Mas essa alternativa não é de todo certa. Ou seja, nem todos os
fariseus perseguiam os cristãos como Saulo fazia.
·
Poderíamos dizer que Saulo tinha
ódio dos cristãos. Essa alternativa também encontra seus problemas de
justificativas, visto o ponto que o Império Romano não iria deixar a solta um
Judeu enfurecido. Quem não pensaria que esse judeu não pudesse mais cedo ou
mais tarde transferir esse ódio por seus dominadores, então essa alternativa se
mostrava como possível problema que os romanos não queriam ver concretizar.
·
Os fatos nos levam a crer que
Saulo perseguia os cristãos por algo muito mais simples: Saulo perseguia simplesmente
por achar que estava certo agir assim.
Nós devemos
lembrar que Saulo era um religioso zeloso. E por religioso zeloso precisamos
entender que é aquele tipo de religioso que procura agradar ao seu Deus. Saulo
acreditava que perseguindo os cristãos estaria sendo zeloso com sua religião.
Saulo agia conforme acreditava e por isso perseguia os cristãos na fé de estar
agradando a Deus.
O caminho
para Damasco na vida de Saulo não foi um momento de repreensão por ter agido
errado, mas foi um momento de reajustamento de valores, ou até mesmo troca de
valores; foi um momento de reorientação da sua fé.
O
caminho de Damasco foi momento e o local onde o fariseu Saulo entendeu que nem
sempre quando pensamos estar certos e convictos, estamos fazendo a vontade de
Deus.
Por vezes,
como crentes, que trabalhamos na casa do Senhor, precisamos avaliar se nossos
métodos, nossas condutas, nossos meios são realmente aquilo que o Senhor queria
que fizéssemos. Precisamos lembrar que Saulo agia como agia por acreditar que
estava fazendo o certo. Não acredito que ele fosse um homem mau, egoísta ou
fanático. Faltava-lhe apenas o Caminho de Damasco para entender
realmente de que lado Deus estava.
O caminho que
conduzia a Damasco não possuía nada de sobrenatural. Não era um caminho próprio
das peregrinações (por mais que os peregrinos do oriente o utilizassem para vir
a Israel). Este trecho da estrada era “um meio do caminho” como qualquer outro.
Não devemos esperar que nada de sobrenatural aconteça naquela porção de terra
caso hoje resolvêssemos trilhar os caminhos que o apóstolo Paulo trilhou em vida. Mas esse local foi
o local que Deus estabeleceu na vida do futuro apóstolo para reorientar a sua
fé.
Muitas vezes
estamos marchando em descompasso como fez o soldado no desfile, achando que
somos os únicos a estarem certos.
Depois do
caminho de Damasco, Saulo aprendeu a olhar a vida e a sua religiosidade com
outros olhos; ele vislumbrou com uma nova perspectiva os caminhos de Deus para
sua vida. Ao fazer isso – ou permitir que Deus fizesse isso em sua vida - sua
fé encontrou sentido pleno e seus dias não foram mais em vão.
Hoje, Deus
lança mão de vários locais, várias situações, vários acontecimentos em nossas
vidas para representar o que o Caminho de Damasco representou na vida de Saulo.
Deus ainda hoje marca encontros conosco a fim de reavaliarmos as nossas
posturas, as nossas escolhas, a nossa visão sobre ele.
Há uns dias,
uma colega me emprestou o livro A Cabana. Dentre muitas coisas que
refleti ao ler esse livro, pude constatar que a nossa visão de Deus pode sofrer
sérias variações, dependendo das circunstâncias que nos sobrevêm. Ou seja,
algumas experiências nos fazem mudar ou até mesmo esquecer quem é Deus em nossas
vidas.
Por um
momento, Saulo parece ter esquecido quem era Deus e qual o seu propósito para
humanidade. Mas o Caminho de Damasco o fez repensar o seu conceito de Deus,
porque no fim das contas tudo é uma questão de ponto de vista e escolhas que
fazemos.
Nesse
sentido, o pastor Josué Gonçalves conta uma história intitulada “A Vida É Feita
de Escolhas” que diz o seguinte:
“O João era o tipo de homem que qualquer pessoa
gostaria de conhecer: Estava sempre de bom humor e tinha sempre
qualquer coisa de positivo para dizer. Se alguém lhe perguntasse como ele
estava, a resposta seria logo:
— Se melhorar estraga.
Era um gerente especial, pois seus garçons seguiam-no de
restaurante em restaurante, só por causa da sua atitude. Era um
motivador nato: se um colaborador tinha um dia mau, o João
dizia-lhe sempre para ver o lado positivo da situação. Fiquei tão curioso com o
seu estilo de vida que um dia lhe perguntei:
— João, como podes ser uma pessoa tão positiva o
tempo todo? Como é que consegues isso?
Respondeu-me :
— Cada manhã, ao acordar, digo para mim mesmo :
— João, hoje tens duas escolhas, podes ficar de bom
humor ou de mau humor, e escolho ficar de bom humor. Cada vez
que algo de mau acontece, posso escolher fazer-me de vítima ou
aprender alguma coisa com o ocorrido: escolho aprender algo.
Sempre que alguém reclama, posso escolher aceitar a
reclamação ou mostrar o lado positivo da vida.
— Certo, mas não é fácil - argumentei.
— É fácil, disse-me o João. A vida é feita de
escolhas. Quando examinas as coisas a fundo, há sempre uma escolha.
E cabe a nós escolhermos como reagir às situações: escolhemos como as
pessoas afetarão o nosso humor. É tua a escolha de como viver
a tua vida.
Nunca mais me esqueci do que o João me disse, e lembrava-me
sempre dele quando fazia uma escolha. Anos mais tarde soube que o
João cometera um erro, deixando pela manhã a porta de serviço aberta,
e foi surpreendido por assaltantes. Dominado, enquanto tentava
abrir o cofre, sua mão, tremendo com o nervosismo, desfez a
combinação do segredo. Os ladrões entraram em pânico, dispararam e
atingiram-no.
Por sorte, foi encontrado a tempo
de ser socorrido e levado para um hospital.
Depois de 18 horas de cirurgia e semanas
de tratamento intensivo, teve alta, ainda com
fragmentos de balas alojadas no corpo.
Encontrei-o mais ou menos por acaso passados uns dias
e quando lhe perguntei como estava, logo me respondeu com o seu habitual
ar bem disposto:
- Ótimo, se melhorar estraga !!
Contou-me o que havia acontecido, e perguntou se eu
queria ver as suas cicatrizes.
Eu recusei-me a ver seus ferimentos, mas
perguntei-lhe o que lhe havia passado pela mente na ocasião do assalto.
— A primeira coisa que pensei foi que devia ter trancado a
porta de trás do estabelecimento, respondeu.
Então, deitado no chão, ensanguentado,
lembrei-me que tinha duas escolhas: poderia viver ou morrer.
Escolhi viver !!
— Não tiveste medo? perguntei.
— Olha, os paramédicos foram ótimos, diziam-me que
tudo ia dar certo e que eu ia ficar bom. Mas quando cheguei à sala
de emergência e vi a expressão dos médicos e enfermeiras, fiquei
apavorado, pude ler em seus lábios: esse aí já era ...
Decidi então que tinha que fazer algo.
— E o que fizeste?? perguntei.
— Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas.
Perguntou-me se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi: Sim.
Todos pararam para ouvir a minha resposta. Tomei
fôlego e gritei:
Sou alérgico a balas de revólver!!
Entre as risadas, disse-lhes: Eu escolho viver, operem-me
como um ser vivo, não como um morto!!
O João sobreviveu graças à persistência dos médicos,
mas, também graças à sua atitude. Aprendi que todos os dias temos a opção
de viver plenamente e tomar decisões, pois serão atitudes que trarão
benefícios agora e para a eternidade.
Afinal de contas, A ATITUDE É TUDO ... " (GONÇALVES, Josué. jogando luz no sermão: ilustrações. 4ed. São Paulo:Mensagem para Todos, 2006. v. 2. p.53-55)
E de fato atitude é tudo. Pois se
mesmo no Caminho de Damasco Saulo não tivesse tomado a atitude de reorientar o
seu caminho ele continuaria a perseguir aos cristãos assim que melhorasse da
cegueira – caso melhorasse.
Seria bom se de vez em
quando passássemos pelo caminho de Damasco nem que fosse só para ter a certeza
que estamos do lado certo e que nossas metas estão de acordo com as metas
traçadas por Deus. O caminho de Damasco deve ser para o crente o momento de
confirmação que estamos fazendo a vontade de Deus e não a nossa.
Pensemos cuidadosamente
nessa possibilidade de percorrer o Caminho de Damasco.e diante da necessidade
de mudança de postura, tomemos uma atitude. Com isso só temos a ganhar.
“Buscar-me-eis e me achareis
quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29:13).
Nenhum comentário:
Postar um comentário